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Trauma na Gravidez

MANUAL DE EMERGÊNCIAS 2025



O trauma durante a gravidez representa uma causa importante de morbilidade e mortalidade materno-fetal não obstétrica. Aproximadamente 6–7% das gestações são complicadas por algum tipo de traumatismo, sendo os acidentes rodoviários a causa mais comum[1][2]. A abordagem a estas pacientes exige um tratamento multidisciplinar que considere as alterações fisiológicas da gravidez e os riscos tanto para a mãe como para o feto.


Sintomas


Os sintomas variam de acordo com o tipo e a gravidade do trauma. Manifestações frequentes incluem:


  • Dor abdominal ou pélvica


  • Contrações uterinas


  • Hemorragia vaginal


  • Redução ou ausência de movimentos fetais


  • Tonturas ou síncope


Importa salientar que a ausência de sintomas maternos não exclui complicações fetais[3].


Sinais Clínicos


A avaliação clínica deve focar-se na identificação de:


  • Sinais de choque hipovolémico: taquicardia, hipotensão, palidez, sudorese


  • Evidência de trauma abdominal: equimoses, hematomas, lacerações


  • Contrações uterinas


  • Perda de líquido amniótico


  • Hemorragia vaginal ativa


  • Alterações na frequência cardíaca fetal


Avaliação


O exame físico deve incluir:


  • Avaliação do estado hemodinâmico materno


  • Palpação abdominal cuidadosa, incluindo avaliação da altura uterina e tónus


  • Exame pélvico para deteção de hemorragia ou perda de líquido amniótico


  • Auscultação da frequência cardíaca fetal


  • Avaliação da atividade uterina


As manobras de Leopold devem ser realizadas para determinação da apresentação fetal[4].


Exames Diagnósticos


Os exames recomendados incluem:


  • Ecografia obstétrica: para avaliar a viabilidade fetal, localização da placenta, quantidade de líquido amniótico e despiste de descolamento placentário[5]


  • Monitorização fetal eletrónica: para avaliação do bem-estar fetal e deteção de contrações


  • Teste de Kleihauer-Betke: para quantificação de hemorragia feto-materna


  • Hemograma completo, tipagem sanguínea e provas cruzadas


  • Estudo da coagulação


  • Outros exames imagiológicos (radiografia, TAC), conforme indicação clínica, ponderando risco-benefício


Abordagem em Situações de Emergência


A abordagem inicial deve seguir o protocolo ABCDE, priorizando a estabilização materna:


  • Colocar a paciente em decúbito lateral esquerdo para evitar compressão aortocava[6]


  • Garantir via aérea permeável e oxigenação adequada


  • Controlar hemorragias e iniciar reposição volémica


  • Monitorização contínua dos sinais vitais maternos e da frequência cardíaca fetal


  • Avaliação rápida da idade gestacional e viabilidade fetal


  • Administrar imunoglobulina anti-D em mulheres Rh negativas


  • Considerar tocólise em caso de contrações uterinas prematuras


  • Avaliação obstétrica urgente e considerar cesariana de emergência se houver comprometimento materno ou fetal[7]


O tratamento subsequente dependerá dos achados clínicos, exigindo uma abordagem multidisciplinar entre trauma, cirurgia, obstetrícia e neonatologia.


O trauma na gravidez representa um desafio clínico significativo, exigindo elevado índice de suspeição e gestão estruturada, respeitando a fisiologia materna e assegurando o bem-estar fetal.


Citações


 
 
 

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