Transfusão de sangue
- EmergenciasUNO
- 12 de jun.
- 4 min de leitura
MANUAL DE EMERGÊNCIAS 2025
É melhor parar uma hemorragia do que ter que realizar uma transfusão
Aspectos gerais
Documentar e etiquetar corretamente os tubos e os formulários para a transfusão.
Verificar o produto a administrar (Plasma fresco, Concentrado de hemácias) antes da transfusão.
Se o nome do paciente, data de nascimento, dados clínicos ou endereço forem desconhecidos ou incertos, identifique-o com um número único (geralmente o número do serviço de urgência) e comunique o caso ao Banco de Sangue.
Dica: registre por escrito o nome da pessoa informada e o horário.
Para evitar confusões, o profissional que coleta sangue deve etiquetar e assinar o tubo ao lado da cama, preencher o formulário e contatar o Banco de Sangue.
Coletar sangue de apenas um paciente por vez.
Etiquetar os tubos imediatamente para minimizar riscos de erro; bancos de sangue rejeitam amostras ou formulários etiquetados incorretamente.
Administrar conscientemente um produto sanguíneo (ou animal, ex.: gelatina) a um paciente que o recusaria (ex.: Testemunha de Jeová) pode gerar complicação legal grave.
Quais amostras enviar ao laboratório
Uma amostra de 10 ml para testes de compatibilidade (cross-match) é geralmente suficiente para adultos.
Se prevê transfusão maciça, envie duas amostras de 10 ml.
No formulário, indicar:
Quantidade de sangue necessária
Quando e onde enviar (Serviço de Emergência)
Data e assinatura
* Sempre siga o Protocolo do seu departamento. Recomenda-se imprimir o protocolo e acompanhar cada passo por escrito, incluindo o horário, para comprovação em caso de disputa legal.
Produto a solicitar
A quantidade de sangue a disponibilizar depende do estado clínico e avaliação de futuras perdas.
A avaliação em choque hipovolêmico inclui:
Reconhecimento da situação clínica
Possível perda futura
Avaliação atual do paciente
Investigações complementares (Hb e Hct podem ser tardias para refletir perdas reais)
Grupo e Screen: determina grupo ABO e Rh, pesquisa anticorpos inesperados. Se negativo, pode liberar sangue em 10–15 min.
Pedir já em pacientes que podem necessitar no futuro, mesmo sem urgência atual.
Testes de compatibilidade sanguínea cruzada podem demorar até 1 h.
Se há urgência, unidades ABO e Rh compatíveis geralmente disponíveis em 15 min.
Para hemorragia exsanguinante, o grupo O negativo pode estar disponível imediatamente.
Produtos sanguíneos
Glóbulos Rojos (Concentrado de Hemácias): 300 ml por doador; Ht 0,65–0,75; 4 ml/kg aumentam Hb ~1 g/dL. Mais informação.
Sangue completo: 530 ml (470 ml sangue + 63 ml conservante); Ht 0,35–0,45. Mais informação.
Concentrado plaquetário (pool ou aférese). Mais informação.
Plasma fresco congelado (PFC): contém fatores de coagulação e fibrinogênio. Mais informação.
Crioprecipitado: rico em fator VIII, fibrinogênio e von Willebrand. Mais informação.
Concentrado de complexo de protrombina (II, VII, IX, X): reverte warfarina. Mais informação.
Precauções (Regulamento do Reino Unido 2005)
* Protocolos vigentes em hospitais do Reino Unido; siga sempre o protocolo do seu hospital.
Antes de iniciar transfusão, confirmada por dois profissionais médicos:
Etiqueta do componente confere com nome, data de nascimento e número hospitalar (pulseira se o paciente estiver inconsciente).
Verificar etiqueta de rastreabilidade conectada à bolsa.
Conferir número da doação, grupo ABO/Rh e requisitos especiais.
Inspecionar componente para descoloração, vazamentos, coágulos, validade.
Se tudo estiver certo, ambos os profissionais devem verificar prescrição e assinar etiqueta antes da transfusão.
Transfundir usando filtro integral; filtros microagregados não são exigidos rotineiramente.
Nunca adicionar medicamentos à bolsa sanguínea.
Não use kits contendo previamente glicose ou gelatina.
Glóbulos vermelhos podem ser diluídos com soro fisiológico 0,9% via Y‐set; não adicionar outras soluções.
Utilizar aquecedor de sangue em transfusões volumosas/rápidas.
Após iniciar transfusão, destaque e anexe etiqueta assinada ao registro de líquidos.
Assinar prescrição para confirmar a identidade do paciente.
Completar etiqueta e devolvê-la ao laboratório.
Mais informação: https://www.transfusionguidelines.org/
Transfusão massiva
Definida como perda de ≥ 50% do volume sanguíneo em 3 h.
Reanimação exige equipe multidisciplinar e coordenação.
Se perda massiva de sangue:
Proteger vias aéreas e administrar O2 de alto fluxo.
Chamar duas enfermeiras e um médico sênior.
Inserir duas vias de grande calibre e iniciar 1000 ml de soro fisiológico aquecido IV.
Colher amostras para hemograma, função renal, eletrólitos, função hepática, coagulação e cross-match; etiquetar e enviar imediatamente.
Avisar o laboratório de hematologia sobre transfusão massiva.
Pedir concentrado de hemácias ABO compatível se paciente estiver em parada iminente (chega em ~10 min). Caso contrário, solicitar cross-match completo e número de unidades.
Identificação precisa é essencial—se identidade desconhecida, fornecer número único.
Chamar o cirurgião para controle hemorrágico imediato.
Iniciar transfusão se persistirem taquicardia/hipotensão apesar de cristaloides.
Repetir exames (hemograma, coagulação, função renal, eletrólitos, cálcio e magnésio) a cada hora.
Iniciar transfusão plaquetária se plaquetas < 75 × 10⁹/L.
Antecipar necessidade de PFC, que repõe fatores; manter fibrinogênio > 1,0 g/L e INR/APTT < 1,5; usar crioprecipitado se necessário.
Fator VIIa recombinante pode ser usado como última tentativa se controle cirúrgico falhar; geralmente prescrito por hematologista.
Hospitais do Reino Unido têm protocolo de Hemorragia Massiva especificando produtos, quantidades e profissionais; veja exemplo do Norfolk and Norwich.
Complicações da transfusão massiva
Hipotermia: produtos armazenados a 2–6 °C. Use aquecedor em transfusões rápidas (> 50 ml/kg/h ou 15 ml/kg/h em crianças). Nunca aquecer a bolsa diretamente.
Alterações eletrolíticas: o citrato anticoagulante pode causar hipocalcemia, acidose, hipomagnesemia e arritmias. ECG e níveis iônicos devem ser monitorizados.
Potássio aumenta no sanguíneo armazenado (risco de hiperpotasemia); verificar ECG e níveis.
Hipopotassemia transitória pode ocorrer ~24 h após transfusão volumosa.
Reação pós-transfusional
Monitorizar nos primeiros 5–10 min de cada unidade por sinais de reação aguda.
Se surgirem febre, dispneia, dor torácica, hipotensão ou dor abdominal: suspeitar reação transfusional.
Tratar reações alérgicas com anti-histamínicos, broncodilatadores e antipiréticos.
Transfusão por erro
A causa mais comum é erro administrativo na etiquetagem, solicitação ou administração.
Transfusão ABO incompatível causa hemólise aguda e colapso vascular; sinais podem ser mascarados por choque ou anestesia.
Se reação é suspeita (hemolítica, bacteriana, alérgica grave, lesão pulmonar aguda), →
Interromper transfusão.
Administrar soro fisiológico 0,9%.
Registrar sinais vitais.
Administrar O2.
Comparar etiqueta da bolsa com identidade do paciente.
Enviar bolsa e acessórios ao banco de sangue.
Contactar banco de sangue por telefone.
Contactar hematologista.
Iniciar antibiótico se infecção suspeita.
Monitorar equilíbrio hídrico e diurese.
Coletar 40 ml de sangue:
5 ml (EDTA) + 5 ml coagulada para banco
10 ml função renal e eletrólitos
10 ml tempo de coagulação
10 ml hemoculturas
Sempre SIGA OS PROTOCOLOS DO SEU HOSPITAL.
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