Primeiro episódio convulsivo
- EmergenciasUNO
- 19 de jun.
- 2 min de leitura
MANUAL DE EMERGÊNCIAS 2025
Como agir quando um doente se apresenta pela PRIMEIRA VEZ nas urgências após um episódio de convulsões tónico-clónicas
Algoritmo do Primeiro Episódio Convulsivo

Aproximadamente 5% da população experienciará pelo menos uma convulsão não febril ao longo da vida.Não utilizar este guia em doentes com:
Epilepsia previamente diagnosticada
Convulsões associadas a traumatismo cranioencefálico
Convulsões relacionadas com eclâmpsia
Estado de mal epiléptico: consultar protocolo específico
Reconhecimento e Avaliação
Sinais e sintomas Antes da crise
Fatores precipitantes incluem:
Privação de sono
Intoxicação aguda por álcool ou substâncias
Abstinência alcoólica
Sintomas prodrómicos podem ser estranhos e difíceis de descrever
Durante a crise (se testemunhada)
Algumas alterações podem simular uma crise epiléptica – consultar diagnóstico diferencial
Sempre que possível, obter relato de testemunhas
Sinais/sintomas observáveis:
Abalos mioclónicos
Movimentos tónico-clónicos
Mordedura lateral da língua (mordedura da ponta da língua ou bochecha não sugere crise generalizada)
Incontinência: não específica, pode ocorrer em qualquer colapso com bexiga cheia
Após a crise
Crises epilépticas generalizadas são geralmente seguidas de período de confusão pós-ictal ≥10 min
Amnésia do episódio é habitual
Cefaleia ou mialgias sugerem convulsão em vez de síncope
Diagnóstico Diferencial
Condição | Sintomas Característicos |
Episódio vasovagal | Perda de consciência precedida de dor, tonturas, náuseas, sudorese fria, recuperação rápida |
Alterações eletrolíticas | Hipo/hiperglicemia, hiponatremia, distúrbios do cálcio, uremia |
Síncope cardíaca | Isquemia, WPW, QT longo, bradi/taciarritmias, estenose aórtica |
Hipersensibilidade do seio carotídeo | Idosos, desencadeada por pressão no pescoço (ex. barbear) |
Hiperventilação | Ansiedade, parestesias, palpitações, dor torácica |
Hipotensão ortostática | Queda da PA sistólica <90 mmHg ou >20 mmHg ao ortostatismo |
Exame Clínico
Procurar lesões associadas, incluindo mordedura lateral da língua
Exame neurológico completo
Auscultação cardíaca (sopros)
Procurar estigmas de doenças associadas (doença hepática, alcoolismo, neurofibromatose)
Exames Complementares
Glicemia capilar
Função renal, eletrólitos
Cálcio sérico corrigido
Hemograma
Provas hepáticas se suspeita de alcoolismo
ECG
TC cerebral se:
Défice neurológico focal novo
Estado mental alterado persistente
Febre ou cefaleia persistente
Trauma craniano recente
História de cancro ou VIH
Início focal da crise
Anticoagulação ou diátese hemorrágica
História de AVC ou AIT
Impossibilidade de seguimento ambulatorial
Tratamento Imediato
Geralmente não é necessário tratamento imediato
Uso indevido de diazepam pode causar depressão respiratória e internamentos desnecessários
Não iniciar tratamento antiepilético nas urgências
Encaminhar para Neurologia
Muitos hospitais britânicos utilizam protocolo “First Fit” com seguimento ambulatório (First Fit Clinic)
Se houver alterações neurológicas focais ou TC anormal, contactar Neurologia para internamento
Alta e Seguimento
Internamento apenas se:
Doente permanece comatoso ou sonolento
Exame neurológico anormal
Resultados laboratoriais anormais
Alto risco de recorrência (ex. abstinência alcoólica)
Ausência de cuidador responsável (ex. idosos que vivem sós)
Encaminhamento para consulta de neurologia (First Fit Clinic)
Instruções ao Doente
Suspender condução e notificar a autoridade rodoviária
Grupo 1 (ligeiros e motociclos): pode retomar após 6 meses se avaliação neurológica normal
Se houver patologia, abstenção mínima de 1 ano antes de nova avaliação
Nota: regras citadas são britânicas – verificar legislação local
Informar o empregador sobre o episódio para cumprimento da legislação de saúde e segurança no trabalho
Aconselhar o regresso imediato às urgências se ocorrer novo episódio
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