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Paragem cardíaca na gravidez

MANUAL DE EMERGÊNCIAS 2025



A paragem cardíaca durante a gravidez é um evento extremamente grave que ocorre em aproximadamente 1 em cada 12.000 a 30.000 gestações[1][2]. Este cenário único envolve dois pacientes — a mãe e o feto — exigindo uma abordagem multidisciplinar para um manejo ótimo[3].


Sintomas


Os sintomas que podem preceder uma paragem cardíaca em grávidas incluem:


  • Dispneia progressiva


  • Dor torácica


  • Palpitações


  • Síncope ou pré-síncope


  • Fadiga extrema


  • Edema periférico acentuado


Importa destacar que alguns destes sintomas podem ser confundidos com alterações fisiológicas normais da gravidez, o que pode atrasar o diagnóstico[4].


Sinais clínicos


Os sinais clínicos de paragem cardíaca numa gestante são semelhantes aos da população geral, mas podem ser modificados pelas alterações fisiológicas da gravidez:


  • Perda súbita de consciência


  • Ausência de pulso carotídeo ou femoral


  • Apneia ou respiração agónica


  • Cianose


  • Midríase fixa (após vários minutos)


Em grávidas com gestação avançada, o síndrome de compressão aortocava pode agravar estes sinais e dificultar a avaliação[5].


Exame físico


A avaliação numa situação suspeita de paragem cardíaca numa grávida deve ser rápida e dirigida:


  • Avaliação do estado de consciência


  • Verificação da respiração e permeabilidade da via aérea


  • Palpação de pulsos centrais (carotídeo ou femoral)


  • Auscultação cardíaca e pulmonar


  • Avaliação da altura uterina (para estimar a idade gestacional)


  • Pesquisa de sinais de trauma ou hemorragia


É crucial completar esta avaliação em menos de 10 segundos para iniciar as manobras de reanimação o mais rapidamente possível se a paragem for confirmada[6].


Exames complementares


Em contexto agudo de paragem cardíaca, os exames diagnósticos são limitados e não devem atrasar o início da reanimação. No entanto, uma vez iniciadas as manobras, podem ser considerados:


  • Monitorização cardíaca contínua


  • Ecografia à cabeceira do doente (FAST) para avaliar atividade cardíaca e excluir causas reversíveis como tamponamento cardíaco ou embolia pulmonar maciça


  • Gasometria arterial


  • Eletrólitos séricos


  • Hemograma completo


  • Estudos de coagulação


A ecocardiografia transtorácica pode ser útil para guiar as manobras de reanimação e avaliar a resposta ao tratamento[7].


Conduta em Emergência


A abordagem da paragem cardíaca na grávida segue os princípios gerais da reanimação cardiopulmonar (RCP), com algumas modificações importantes:


  • Ativação imediata do código azul obstétrico


  • Início de compressões torácicas de alta qualidade


  • Manejo avançado da via aérea (intubação precoce)


  • Deslocamento manual do útero para a esquerda (a partir das 20 semanas de gestação)


  • Administração de fármacos segundo os protocolos de suporte avançado de vida


  • Consideração precoce de histerotomia de emergência (cesariana perimortem) se não houver resposta após 4 minutos de RCP


É fundamental que a equipa de reanimação esteja familiarizada com causas reversíveis específicas da gravidez, como hemorragia maciça, embolia de líquido amniótico, pré-eclâmpsia/eclâmpsia e cardiomiopatia periparto[8][9].


A implementação rápida e coordenada destas medidas pode melhorar significativamente as taxas de sobrevivência materna (17-59%) e fetal (61-80%)[4].


A paragem cardíaca na gravidez representa um desafio único que requer uma abordagem multidisciplinar e protocolos específicos. A identificação precoce, a ativação célere dos sistemas de emergência e a aplicação de manobras adaptadas à fisiologia da gravidez são cruciais para otimizar os desfechos tanto para a mãe como para o feto.


Citações



 
 
 

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