Paragem cardíaca na gravidez
- EmergenciasUNO
- 22 de jun.
- 2 min de leitura
MANUAL DE EMERGÊNCIAS 2025
A paragem cardíaca durante a gravidez é um evento extremamente grave que ocorre em aproximadamente 1 em cada 12.000 a 30.000 gestações[1][2]. Este cenário único envolve dois pacientes — a mãe e o feto — exigindo uma abordagem multidisciplinar para um manejo ótimo[3].
Sintomas
Os sintomas que podem preceder uma paragem cardíaca em grávidas incluem:
Dispneia progressiva
Dor torácica
Palpitações
Síncope ou pré-síncope
Fadiga extrema
Edema periférico acentuado
Importa destacar que alguns destes sintomas podem ser confundidos com alterações fisiológicas normais da gravidez, o que pode atrasar o diagnóstico[4].
Sinais clínicos
Os sinais clínicos de paragem cardíaca numa gestante são semelhantes aos da população geral, mas podem ser modificados pelas alterações fisiológicas da gravidez:
Perda súbita de consciência
Ausência de pulso carotídeo ou femoral
Apneia ou respiração agónica
Cianose
Midríase fixa (após vários minutos)
Em grávidas com gestação avançada, o síndrome de compressão aortocava pode agravar estes sinais e dificultar a avaliação[5].
Exame físico
A avaliação numa situação suspeita de paragem cardíaca numa grávida deve ser rápida e dirigida:
Avaliação do estado de consciência
Verificação da respiração e permeabilidade da via aérea
Palpação de pulsos centrais (carotídeo ou femoral)
Auscultação cardíaca e pulmonar
Avaliação da altura uterina (para estimar a idade gestacional)
Pesquisa de sinais de trauma ou hemorragia
É crucial completar esta avaliação em menos de 10 segundos para iniciar as manobras de reanimação o mais rapidamente possível se a paragem for confirmada[6].
Exames complementares
Em contexto agudo de paragem cardíaca, os exames diagnósticos são limitados e não devem atrasar o início da reanimação. No entanto, uma vez iniciadas as manobras, podem ser considerados:
Monitorização cardíaca contínua
Ecografia à cabeceira do doente (FAST) para avaliar atividade cardíaca e excluir causas reversíveis como tamponamento cardíaco ou embolia pulmonar maciça
Gasometria arterial
Eletrólitos séricos
Hemograma completo
Estudos de coagulação
A ecocardiografia transtorácica pode ser útil para guiar as manobras de reanimação e avaliar a resposta ao tratamento[7].
Conduta em Emergência
A abordagem da paragem cardíaca na grávida segue os princípios gerais da reanimação cardiopulmonar (RCP), com algumas modificações importantes:
Ativação imediata do código azul obstétrico
Início de compressões torácicas de alta qualidade
Manejo avançado da via aérea (intubação precoce)
Deslocamento manual do útero para a esquerda (a partir das 20 semanas de gestação)
Administração de fármacos segundo os protocolos de suporte avançado de vida
Consideração precoce de histerotomia de emergência (cesariana perimortem) se não houver resposta após 4 minutos de RCP
É fundamental que a equipa de reanimação esteja familiarizada com causas reversíveis específicas da gravidez, como hemorragia maciça, embolia de líquido amniótico, pré-eclâmpsia/eclâmpsia e cardiomiopatia periparto[8][9].
A implementação rápida e coordenada destas medidas pode melhorar significativamente as taxas de sobrevivência materna (17-59%) e fetal (61-80%)[4].
A paragem cardíaca na gravidez representa um desafio único que requer uma abordagem multidisciplinar e protocolos específicos. A identificação precoce, a ativação célere dos sistemas de emergência e a aplicação de manobras adaptadas à fisiologia da gravidez são cruciais para otimizar os desfechos tanto para a mãe como para o feto.
Citações
[4] https://www.mayoclinic.org/es/diseases-conditions/sudden-cardiac-arrest/diagnosis-treatment/drc-20350640
[8] https://www.msdmanuals.com/es/professional/ginecología-y-obstetricia/complicaciones-no-obstétricas-durante-el-embarazo/enfermedades-cardíacas-en-el-embarazo
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