Paracetamol
- EmergenciasUNO
- 10 de jun.
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MANUAL DE EMERGÊNCIAS 2025
O paracetamol (conhecido como acetaminofeno nos EUA) é um medicamento amplamente utilizado com efeitos analgésicos e antipiréticos, mas sem propriedades anti-inflamatórias significativas. É geralmente bem tolerado e causa menos irritação gástrica do que o ácido acetilsalicílico.
Ações e Utilizações Gerais
Como analgésico simples, é utilizado para:
Cefaleias
Dor musculoesquelética
Dismenorreia
Odinofagia
Dor dentária ou pós-extracções
Traumatismos ligeiros cranianos em crianças
Como antipirético:
Em crianças <5 anos com febre, especialmente se apresentarem desconforto ou prostração
Em casos de acidente vascular cerebral (AVC) com temperatura >37,5 ºC→ Administração por via oral ou retal
Em pós-convulsões em lactentes >1 mês com febre
Outras utilizações clínicas:
Dor lombar de origem mecânica: 1 g VO a cada 6 horas (máx. 4 g/dia)
Otite média aguda: 1 g VO a cada 6 horas (analgésico e antipirético)
Dor pleurítica: paracetamol isolado pode ser insuficiente
Associação com opioides: utilizado em combinações (ex.: paracetamol + codeína)
Doses baixas oferecem pouco benefício adicional
Doses completas têm maior potência mas mais efeitos adversos
Posologia
Adultos:
Via oral: 500 mg a 1 g a cada 4–6 horas→ Máximo: 4 g em 24 horas
Via intravenosa (≥50 kg): 1 g em infusão de 15 minutos, a cada 4–6 horas→ Máximo: 4 g/dia
AVC com febre: 1 g VO ou PR a cada 6 horas
Pediatria:
Dose terapêutica: 10–15 mg/kg
Dose única máxima em casos graves: 20 mg/kg
Basear dose em peso sempre que possível
Doses específicas para suspensões orais por faixa etária
Pode repetir-se a cada 4–6 horas→ Máximo: 4 doses/24h para crianças >3 meses
Dor ligeira a moderada: 15 mg/kg VO a cada 6 horas
Febre pós-convulsiva (>1 mês): 20 mg/kg VO a cada 6 horas
Via IV (10–50 kg): 15 mg/kg em 15 min a cada 4–6 horas→ Máximo: 60 mg/kg por dia
É essencial pesar a criança antes da prescrição.
Outros Usos
Reações adversas transfusionais (RAT) – para reações febris não hemolíticas recorrentes→ 500–1000 mg, 1 hora antes da transfusão→ Evidência de eficácia é controversa
Sobredosagem e Toxicidade (Intoxicação por Paracetamol)
Riscos e Factores de Toxicidade
Pode causar hepatotoxicidade grave e, ocasionalmente, insuficiência renal
Intoxicação significativa:
≥12 g totais ou >150 mg/kg
Maior risco com >75 mg/kg em doentes com fatores predisponentes:
Fatores de Risco:
Alcoolismo crónico
Desnutrição, anorexia, caquexia
Infeção por VIH
Fibrose quística
Uso de indutores enzimáticos (antiepiléticos, rifampicina, hipericão)
Jejum prolongado, desidratação
Insuficiência hepática ou renal
Obesidade >110 kg: considerar 110 kg como peso máximo para cálculo de dose
Sintomas Clínicos
Iniciais (horas após ingestão): náuseas, vómitos, desconforto abdominal
Intermédios (12–36h): dor abdominal
Tardia (2–3 dias):
Sinais de necrose hepática: dor hipocondríaca direita, icterícia, vómitos, encefalopatia
Sinais de insuficiência renal aguda: lombalgia, hematúria, proteinúria
Investigação e Diagnóstico
Nível plasmático de paracetamol
Hemograma, INR, ureia e eletrólitos, provas hepáticas, gasometria venosa
INR prolongado é marcador precoce de lesão hepática (>24h)
Tratamento da Sobredosagem
Determinar com máxima precisão o momento da ingestão
Seguir protocolos (ex.: TOXBASE)
Carvão ativado: útil se administrado até 1 hora após ingestão maciça
Antídoto:
Acetilcisteína (Parvolex®) – administração IV segundo esquema específico
Pode causar efeitos adversos: urticária, náuseas, broncospasmo, hipotensão
Metionina oral – alternativa quando acetilcisteína IV não é possível→ Menos eficaz em certos casos
Utiliza-se gráfico de tratamento por risco (normal vs elevado) com base no tempo pós-ingestão e nível plasmático
Efetividade do tratamento:
Melhor resultado se acetilcisteína for iniciada <8 horas após ingestão
Outros Cenários
Sobredosagem escalonada (múltiplas tomas em 1 ou vários dias): abordagem individualizada e consulta especializada
Gravidez: seguir tratamento habitual; acetilcisteína e metionina são seguras
Necessidade de transplante hepático:
Casos graves de falência hepática aguda
Avaliação com base em critérios específicos
Precauções
Aguardar mínimo de 2 horas após ingestão antes de transfusão de plaquetas
Evitar uso prolongado de combinações com opioides devido ao risco de dependência
Avaliar alergias e medicação concomitante
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