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MORDIDELAS E PICADAS

MANUAL DE EMERGÊNCIAS MENORES



As mordidelas e picadas são ocorrências frequentes nos serviços de urgência e requerem uma abordagem rápida e eficaz devido ao seu potencial para originar infeções, reações alérgicas ou mesmo envenenamentos graves.


Do ponto de vista do médico de urgência, uma avaliação minuciosa e um tratamento adequado são fundamentais para minimizar complicações e melhorar o prognóstico do doente.


Avaliação Inicial


História Clínica Rápida:


  • Tipo de Agente: Identificar o animal ou inseto responsável pela mordidela ou picada é essencial, pois influencia tanto o tratamento como o prognóstico.


  • Tempo Decorrido: Conhecer o intervalo entre a exposição e a avaliação médica permite avaliar o risco de infeção ou de reações sistémicas.


  • Antecedentes Médicos: Incluir alergias conhecidas, estado vacinal antitetânico e condições clínicas que possam complicar o tratamento, como imunossupressão.


Exame Físico:


  • Inspeção: Avaliar a lesão em busca de sinais de infeção, necrose ou envenenamento. Procurar por hemorragia ativa, corpos estranhos (ex.: dentes, ferrões) e o grau de inflamação.


  • Sinais Vitais: Monitorizar pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória; avaliar a presença de sintomas sistémicos como febre, dispneia ou sinais neurológicos.


Tipos de Mordidelas e Picadas

Tipo de Mordidela/Picada

Complicações

Abordagem

Mordidelas de animais domésticos

Infeção bacteriana (Pasteurella, Capnocytophaga), risco de tétano.

Limpeza profunda da ferida, desbridamento se necessário, antibióticos profiláticos, vacina antitetânica se indicada.

Mordidelas humanas

Elevado risco de infeção pela flora oral (Streptococcus, Staphylococcus aureus), especialmente em mãos.

Limpeza e desbridamento, antibióticos de largo espectro, considerar vacinação antitetânica.

Mordidelas de animais selvagens

Risco de infeções graves e raiva.

Profilaxia contra a raiva (imunoglobulina e vacina), limpeza profunda da ferida, antibióticos se houver sinais de infeção, vigilância clínica.

Picadas de insetos (abelhas, vespas, formigas)

Reações locais ligeiras a anafilaxia em indivíduos alérgicos.

Remover ferrão se presente, aplicar compressas frias, administrar anti-histamínicos e corticosteroides, adrenalina em caso de anafilaxia, suporte avançado de vida se necessário.

Mordidelas de aranhas (viúva-negra, reclusa castanha)

Sintomas sistémicos severos (viúva-negra), necrose local (reclusa castanha).

Limpeza da ferida, tratamento sintomático com analgésicos e relaxantes musculares, considerar antiveneno e hospitalização em casos graves.

Picadas/mordidelas marinhas (alforrecas, ouriços-do-mar, peixes venenosos)

Reações locais intensas, necrose, envenenamento sistémico (raro).

Lavagem com água salgada ou vinagre (alforrecas), remoção de espinhos, controlo da dor, antiveneno e hospitalização em envenenamentos graves.


Abordagem Geral em Serviço de Urgência


  • Limpeza e Desbridamento da Ferida: Todas as lesões devem ser adequadamente lavadas para prevenir infeções. O desbridamento pode ser necessário para remover tecido necrosado ou contaminado.


  • Antibióticos Profiláticos: Devem ser considerados especialmente em mordidelas de alto risco (gatos, humanos, ou em mãos e face).


  • Imunização: Administração de vacina antitetânica se indicada, e profilaxia antirrábica nas mordidelas por animais selvagens.


  • Tratamento Sintomático: Inclui controlo da dor, anti-histamínicos para reduzir a inflamação e, em casos de reações alérgicas graves, adrenalina e outros tratamentos para choque anafilático.


  • Observação e Seguimento: Alguns doentes podem necessitar de observação prolongada na urgência, especialmente se houver risco de complicações graves como infeções profundas ou anafilaxia.


  • Encaminhamento: Casos complexos, como envenenamentos graves ou lesões que envolvam estruturas profundas, podem necessitar de encaminhamento para cuidados intensivos ou avaliação por especialistas (ex.: cirurgia geral ou cirurgia maxilofacial).


Destino do Doente


  • Alta: Nos casos ligeiros, sem sinais de complicação, o doente pode ter alta com instruções para cuidados domiciliários e sinais de alarme para eventual reavaliação.


  • Internamento: Indicado em situações graves, incluindo infeções profundas, reações alérgicas severas e envenenamentos sistémicos refratários ao tratamento inicial.

 
 
 

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