MORDIDELAS E PICADAS
- EmergenciasUNO

- 24 de jul.
- 3 min de leitura
MANUAL DE EMERGÊNCIAS MENORES
As mordidelas e picadas são ocorrências frequentes nos serviços de urgência e requerem uma abordagem rápida e eficaz devido ao seu potencial para originar infeções, reações alérgicas ou mesmo envenenamentos graves.
Do ponto de vista do médico de urgência, uma avaliação minuciosa e um tratamento adequado são fundamentais para minimizar complicações e melhorar o prognóstico do doente.
Avaliação Inicial
História Clínica Rápida:
Tipo de Agente: Identificar o animal ou inseto responsável pela mordidela ou picada é essencial, pois influencia tanto o tratamento como o prognóstico.
Tempo Decorrido: Conhecer o intervalo entre a exposição e a avaliação médica permite avaliar o risco de infeção ou de reações sistémicas.
Antecedentes Médicos: Incluir alergias conhecidas, estado vacinal antitetânico e condições clínicas que possam complicar o tratamento, como imunossupressão.
Exame Físico:
Inspeção: Avaliar a lesão em busca de sinais de infeção, necrose ou envenenamento. Procurar por hemorragia ativa, corpos estranhos (ex.: dentes, ferrões) e o grau de inflamação.
Sinais Vitais: Monitorizar pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória; avaliar a presença de sintomas sistémicos como febre, dispneia ou sinais neurológicos.
Tipos de Mordidelas e Picadas
Tipo de Mordidela/Picada | Complicações | Abordagem |
Mordidelas de animais domésticos | Infeção bacteriana (Pasteurella, Capnocytophaga), risco de tétano. | Limpeza profunda da ferida, desbridamento se necessário, antibióticos profiláticos, vacina antitetânica se indicada. |
Mordidelas humanas | Elevado risco de infeção pela flora oral (Streptococcus, Staphylococcus aureus), especialmente em mãos. | Limpeza e desbridamento, antibióticos de largo espectro, considerar vacinação antitetânica. |
Mordidelas de animais selvagens | Risco de infeções graves e raiva. | Profilaxia contra a raiva (imunoglobulina e vacina), limpeza profunda da ferida, antibióticos se houver sinais de infeção, vigilância clínica. |
Picadas de insetos (abelhas, vespas, formigas) | Reações locais ligeiras a anafilaxia em indivíduos alérgicos. | Remover ferrão se presente, aplicar compressas frias, administrar anti-histamínicos e corticosteroides, adrenalina em caso de anafilaxia, suporte avançado de vida se necessário. |
Mordidelas de aranhas (viúva-negra, reclusa castanha) | Sintomas sistémicos severos (viúva-negra), necrose local (reclusa castanha). | Limpeza da ferida, tratamento sintomático com analgésicos e relaxantes musculares, considerar antiveneno e hospitalização em casos graves. |
Picadas/mordidelas marinhas (alforrecas, ouriços-do-mar, peixes venenosos) | Reações locais intensas, necrose, envenenamento sistémico (raro). | Lavagem com água salgada ou vinagre (alforrecas), remoção de espinhos, controlo da dor, antiveneno e hospitalização em envenenamentos graves. |
Abordagem Geral em Serviço de Urgência
Limpeza e Desbridamento da Ferida: Todas as lesões devem ser adequadamente lavadas para prevenir infeções. O desbridamento pode ser necessário para remover tecido necrosado ou contaminado.
Antibióticos Profiláticos: Devem ser considerados especialmente em mordidelas de alto risco (gatos, humanos, ou em mãos e face).
Imunização: Administração de vacina antitetânica se indicada, e profilaxia antirrábica nas mordidelas por animais selvagens.
Tratamento Sintomático: Inclui controlo da dor, anti-histamínicos para reduzir a inflamação e, em casos de reações alérgicas graves, adrenalina e outros tratamentos para choque anafilático.
Observação e Seguimento: Alguns doentes podem necessitar de observação prolongada na urgência, especialmente se houver risco de complicações graves como infeções profundas ou anafilaxia.
Encaminhamento: Casos complexos, como envenenamentos graves ou lesões que envolvam estruturas profundas, podem necessitar de encaminhamento para cuidados intensivos ou avaliação por especialistas (ex.: cirurgia geral ou cirurgia maxilofacial).
Destino do Doente
Alta: Nos casos ligeiros, sem sinais de complicação, o doente pode ter alta com instruções para cuidados domiciliários e sinais de alarme para eventual reavaliação.
Internamento: Indicado em situações graves, incluindo infeções profundas, reações alérgicas severas e envenenamentos sistémicos refratários ao tratamento inicial.

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