Intoxicação Paralítica por Marisco
- EmergenciasUNO
- 13 de jun.
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MANUAL DE EMERGÊNCIAS 2025
A intoxicação paralítica por marisco (IPM), também conhecida como intoxicação paralítica por bivalves, é uma condição neurotóxica grave causada pelo consumo de mariscos contaminados com saxitoxina e os seus derivados.
Esta toxina é produzida por determinadas espécies de dinoflagelados e diatomáceas que proliferam durante as florações de algas nocivas (FAN) [1]. A IPM representa um risco significativo para a saúde pública e requer diagnóstico e tratamento rápidos para evitar complicações potencialmente fatais.
Sintomas
Os sintomas da IPM manifestam-se geralmente de forma rápida, entre 30 minutos e 2 horas após a ingestão de marisco contaminado [2]. A progressão sintomática é geralmente contínua e pode incluir:
Formigueiro ou sensação de queimadura nos lábios, língua e face
Dormência progressiva que se estende ao pescoço, braços e pernas
Dificuldade em realizar movimentos voluntários
Afasia
Sensação de flutuação ou dissociação
Sialorreia
Cefaleia
Parestesias
Tonturas intensas
Náuseas e vómitos [1][2]
A gravidade dos sintomas está diretamente relacionada com a concentração de toxina ingerida. Níveis entre 120 e 180 μg podem causar sintomas moderados, enquanto valores entre 400 e 1060 μg podem ser letais [2].
Sinais Clínicos
O exame físico de pacientes com IPM pode revelar os seguintes sinais:
Fraqueza muscular generalizada
Ataxia e descoordenação
Paralisia flácida (nos casos graves)
Insuficiência respiratória (nos casos graves)
Alterações da sensibilidade térmica
Hipotensão e bradicardia (em casos muito graves) [1][2]
É importante salientar que estes sinais podem evoluir rapidamente, e a insuficiência respiratória pode surgir entre 2 e 12 horas após a ingestão [2].
Exame Físico
A avaliação clínica de pacientes com suspeita de IPM deve incluir:
Avaliação neurológica completa, com ênfase na função motora e sensorial
Monitorização dos sinais vitais, especialmente da função respiratória
Avaliação da função cardiovascular
Exame da cavidade oral e orofaringe
Avaliação do estado mental e do nível de consciência
Exames Diagnósticos
O diagnóstico da IPM baseia-se principalmente na apresentação clínica e no histórico recente de ingestão de marisco. No entanto, podem ser realizados os seguintes exames:
Análise laboratorial de amostras de marisco para deteção de saxitoxina
Análises de sangue e urina para avaliar o estado geral do paciente
Eletrocardiograma (ECG) para monitorização da função cardíaca
Testes de função respiratória [1][3]
É fundamental realizar diagnóstico diferencial com outras condições como o botulismo, ciguatera e intoxicações por inseticidas organofosforados e carbamatos [2].
Abordagem em Situações de Emergência
O tratamento da IPM é principalmente de suporte, dado que não existe antídoto específico. A abordagem no serviço de urgência deve incluir:
Estabilização das funções vitais, com atenção particular à função respiratória
Administração de líquidos intravenosos para manter a hidratação
Indução do vómito ou lavagem gástrica se a ingestão for recente (primeira hora)
Administração de carvão ativado na primeira hora pós-ingestão
Monitorização cardíaca contínua
Ventilação mecânica em casos de insuficiência respiratória
Administração de diuréticos e bebidas alcalinas ricas em sódio e potássio para favorecer a eliminação renal da toxina
Consideração de hemoperfusão em casos graves [2][3]
É essencial fornecer suporte respiratório adequado, visto que a taxa de mortalidade global é estimada em 10%, sendo o prognóstico diretamente dependente da rapidez na instalação do suporte ventilatório [2].
A intoxicação paralítica por marisco é uma condição neurológica grave que exige diagnóstico célere e suporte intensivo. O reconhecimento precoce dos sintomas, avaliação clínica minuciosa e implementação imediata de medidas de suporte, especialmente respiratórias, são fundamentais para um desfecho favorável.
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