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Intoxicação Paralítica por Marisco

MANUAL DE EMERGÊNCIAS 2025



A intoxicação paralítica por marisco (IPM), também conhecida como intoxicação paralítica por bivalves, é uma condição neurotóxica grave causada pelo consumo de mariscos contaminados com saxitoxina e os seus derivados.


Esta toxina é produzida por determinadas espécies de dinoflagelados e diatomáceas que proliferam durante as florações de algas nocivas (FAN) [1]. A IPM representa um risco significativo para a saúde pública e requer diagnóstico e tratamento rápidos para evitar complicações potencialmente fatais.


Sintomas


Os sintomas da IPM manifestam-se geralmente de forma rápida, entre 30 minutos e 2 horas após a ingestão de marisco contaminado [2]. A progressão sintomática é geralmente contínua e pode incluir:


  • Formigueiro ou sensação de queimadura nos lábios, língua e face


  • Dormência progressiva que se estende ao pescoço, braços e pernas


  • Dificuldade em realizar movimentos voluntários


  • Afasia


  • Sensação de flutuação ou dissociação


  • Sialorreia


  • Cefaleia


  • Parestesias


  • Tonturas intensas


  • Náuseas e vómitos [1][2]


A gravidade dos sintomas está diretamente relacionada com a concentração de toxina ingerida. Níveis entre 120 e 180 μg podem causar sintomas moderados, enquanto valores entre 400 e 1060 μg podem ser letais [2].


Sinais Clínicos


O exame físico de pacientes com IPM pode revelar os seguintes sinais:


  • Fraqueza muscular generalizada


  • Ataxia e descoordenação


  • Paralisia flácida (nos casos graves)


  • Insuficiência respiratória (nos casos graves)


  • Alterações da sensibilidade térmica


  • Hipotensão e bradicardia (em casos muito graves) [1][2]


É importante salientar que estes sinais podem evoluir rapidamente, e a insuficiência respiratória pode surgir entre 2 e 12 horas após a ingestão [2].


Exame Físico


A avaliação clínica de pacientes com suspeita de IPM deve incluir:


  • Avaliação neurológica completa, com ênfase na função motora e sensorial


  • Monitorização dos sinais vitais, especialmente da função respiratória


  • Avaliação da função cardiovascular


  • Exame da cavidade oral e orofaringe


  • Avaliação do estado mental e do nível de consciência


Exames Diagnósticos


O diagnóstico da IPM baseia-se principalmente na apresentação clínica e no histórico recente de ingestão de marisco. No entanto, podem ser realizados os seguintes exames:


  • Análise laboratorial de amostras de marisco para deteção de saxitoxina


  • Análises de sangue e urina para avaliar o estado geral do paciente


  • Eletrocardiograma (ECG) para monitorização da função cardíaca


  • Testes de função respiratória [1][3]


É fundamental realizar diagnóstico diferencial com outras condições como o botulismo, ciguatera e intoxicações por inseticidas organofosforados e carbamatos [2].


Abordagem em Situações de Emergência


O tratamento da IPM é principalmente de suporte, dado que não existe antídoto específico. A abordagem no serviço de urgência deve incluir:


  • Estabilização das funções vitais, com atenção particular à função respiratória


  • Administração de líquidos intravenosos para manter a hidratação


  • Indução do vómito ou lavagem gástrica se a ingestão for recente (primeira hora)


  • Administração de carvão ativado na primeira hora pós-ingestão


  • Monitorização cardíaca contínua


  • Ventilação mecânica em casos de insuficiência respiratória


  • Administração de diuréticos e bebidas alcalinas ricas em sódio e potássio para favorecer a eliminação renal da toxina


  • Consideração de hemoperfusão em casos graves [2][3]


É essencial fornecer suporte respiratório adequado, visto que a taxa de mortalidade global é estimada em 10%, sendo o prognóstico diretamente dependente da rapidez na instalação do suporte ventilatório [2].


A intoxicação paralítica por marisco é uma condição neurológica grave que exige diagnóstico célere e suporte intensivo. O reconhecimento precoce dos sintomas, avaliação clínica minuciosa e implementação imediata de medidas de suporte, especialmente respiratórias, são fundamentais para um desfecho favorável.


Citações


 
 
 

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