Hipertensão
- EmergenciasUNO
- 11 de jun.
- 3 min de leitura
MANUAL DE EMERGÊNCIAS 2025
A hipertensão é uma condição clínica em que a pressão arterial (PA) se encontra elevada.
A maioria dos doentes hipertensos é assintomática.
Contudo, trata-se de um fator de risco importante para doenças cardiovasculares e acidentes vasculares cerebrais (AVC).
É também um fator de risco contribuinte para enfarte agudo do miocárdio (EAM).
Apresentação e Avaliação no Serviço de Urgência
A maioria dos doentes hipertensos identificados no serviço de urgência (SU) não necessita de intervenção ou tratamento imediato, mas sim de seguimento rigoroso, geralmente sob cuidados do médico de família.
Nunca se deve intervir com base numa única medição elevada da PA na ausência de sinais ou sintomas associados.
Avaliar sempre se a hipertensão está diretamente relacionada com sintomas ou sinais clínicos. Se estiver, deve-se contactar a equipa médica e ponderar a intervenção adequada.
Classificação e Abordagem
A hipertensão pode ser classificada como:
Leve/Moderada: PA diastólica 100–125 mmHg
Grave: PA diastólica >125 mmHg
Hipertensão leve/moderada:
Se assintomático, exame físico e função renal normais: seguimento com médico de família pode ser apropriado.
Se PA moderadamente elevada (110–125 mmHg) e o doente for sintomático: referenciar à equipa médica.
Hipertensão grave:
Necessita de avaliação urgente.
Procurar sinais de encefalopatia hipertensiva:
Cefaleia
Náuseas, vómitos
Confusão
Alterações retinianas (hemorragias, exsudados, papiledema)
Convulsões
Défices neurológicos focais
Diminuição do nível de consciência
Questionar sobre consumo recente de drogas (como cocaína ou MDMA).
Abordagem à Hipertensão Grave
Inserir acesso venoso periférico
Análises: ureia, eletrólitos, creatinina, glicemia
Radiografia torácica (Rx tórax) e ECG
Análise sumária de urina
Se houver sinais neurológicos focais ou diminuição do estado de consciência, suspeitar de AVC ou hemorragia intracraniana e solicitar TC cerebral urgente.
Tratamento da Hipertensão Grave
Referenciar o doente à equipa médica.
Evitar baixar a PA de forma abrupta sem orientação especializada, devido ao risco de AVC ou EAM.
Pode iniciar-se terapêutica oral com betabloqueador (atenolol ou labetalol) ou antagonista dos canais de cálcio (nifedipina), se indicado.
Se tratamento IV for necessário:
Iniciar perfusão de nitroprussiato de sódio, labetalol ou GTN
Monitorização contínua da PA com linha arterial
Internamento em Unidade de Cuidados Intermédios (HDU) ou Unidade de Cuidados Intensivos (UCI)
Situações Clínicas Específicas
AVC:Não intervir na hipertensão associada a AVC, exceto sob orientação de neurologista.Manter PAS ≤140/80 mmHg nos primeiros 7 dias.Em estenose carotídea sintomática, alvo de PA: <130/80 mmHg, mas sem reduções bruscas.
Disseção Aórtica:Suspeitar em doentes hipertensos com dor torácica/dorsal súbita e intensa.Mais de 70% dos casos de dissecção aórtica têm antecedentes de hipertensão.Labetalol IV pode ser preferido. Controlo sob supervisão especializada.
Encefalopatia Hipertensiva:Complicação de hipertensão grave/maligna.
Cefaleia:Hipertensão é uma causa rara de cefaleia, mas pode ocorrer na hipertensão maligna (PAD >130 mmHg).Cefaleia de início recente em >50 anos: sinal de alarme para arterite temporal (risco de AIT ou AVC).
Doença Renal Crónica (DRC):Hipertensão é frequentemente grave e resistente.Ciclosporina e eritropoietina aumentam a PA e podem causar encefalopatia hipertensiva.IECA podem agravar a função renal e causar hiperpotassémia.
Gravidez:Hipertensão pode indicar pré-eclâmpsia ou eclâmpsia.Critérios: PA >140/90, proteinúria, edema.Sinais de progressão: confusão, cefaleia, tremores, hiperreflexia, alterações visuais, dor abdominal.Evitar associações de BB + antagonistas do cálcio na FA.A PA materna diminui ligeiramente na gravidez.Suspeitar de dissecção aórtica em grávidas com dor torácica/dorsal/cervical inexplicada e grave.
Hipertensão induzida por fármacos:Crises hipertensivas podem ocorrer com ingestão de alimentos ricos em aminas ou uso de simpaticomiméticos em doentes sob IMAO.Risco de hemorragia intracerebral ou subaracnoideia.Betabloqueadores estão contraindicados em hipertensão induzida por cocaína, anfetaminas ou drogas simpaticomiméticas.
Aumento da Pressão Intracraniana (PIC):Aumento da PIC → aumento reflexo da PA + bradicardia (resposta de Cushing).Após trauma craniano, o controlo da PA é crucial.
Edema Pulmonar Cardiogénico:A hipertensão pode ser causa, frequentemente em contexto de patologia cardíaca preexistente.
Risco Hemorrágico:Hipertensão (controlada ou não) é fator de risco para hemorragia adversa em doentes anticoagulados.
Outras Considerações
Sumatriptano e ergotamina, usados para enxaqueca, estão contraindicados na hipertensão não controlada.
Ter cautela com administração de fluidos IV em choque de causa cardíaca, aneurisma aórtico roto ou dissecante.
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