Febre Amarela
- EmergenciasUNO
- 13 de jun.
- 3 min de leitura
MANUAL DE EMERGÊNCIAS 2025
A febre amarela é uma doença viral aguda transmitida por mosquitos, endémica em regiões tropicais de África e América do Sul [1][2]. Causada por um flavivírus, esta doença representa uma ameaça significativa para a saúde pública global, com uma estimativa de 84 000 a 170 000 casos graves e 29 000 a 60 000 mortes em África em 2013 [2].
Sintomas
A febre amarela caracteriza-se por um período de incubação de 3 a 6 dias, seguido de apresentação clínica que pode variar de assintomática até grave [1][2][4]. Os sintomas iniciais incluem:
Febre de início súbito (39–40 °C)
Cefaleia intensa
Dor muscular generalizada (mialgias)
Náuseas e vómitos
Perda de apetite
Tonturas e fadiga extrema
Na maioria dos casos, estes sintomas desaparecem entre o 3.º e 4.º dia. No entanto, cerca de 15 % dos doentes evoluem para uma fase grave da doença [2][4].
Sinais Clínicos
Durante a fase aguda, os sinais clínicos mais evidentes são:
Febre elevada com bradicardia relativa (sinal de Faget) [3]
Eritema facial e injetção conjuntival
Postração grave, agitação ou irritabilidade
Nos casos severos (febre amarela maligna), podem surgir:
Icterícia (coloração amarelada da pele e olhos)
Manifestações hemorrágicas (sangramento oral, nasal ou gastrointestinal)
Delírios e convulsões
Insuficiência multiorgânica
Exploração Física
A avaliação deve focar-se nos seguintes aspetos:
Sinais vitais, com atenção especial à frequência cardíaca relativamente à temperatura (sinal de Faget)
Exame da pele e mucosas para detetar icterícia e sinais de hemorragia
Avaliação neurológica para identificar alterações do estado mental ou sinais de encefalopatia
Palpação abdominal para verificar hepatomegalia ou dor no hipocôndrio direito
Provas Diagnósticas
O diagnóstico de febre amarela assenta numa combinação de dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais [1][3][5]. As provas incluem:
Deteção de ARN viral:
RT‑PCR (tempo real ou convencional) em amostras de soro, até ao 7.º–10.º dia após o início dos sintomas [5]
Serologia:
ELISA de captura de IgM (MAC‑ELISA), disponível a partir do dia 5.º–7.º após o início dos sintomas [5]
Isolamento viral:
Cultura em células Vero ou C6/36 (menos frequentemente usada na prática clínica) [5]
Provas de função hepática:
Níveis elevados de transaminases e bilirrubina
Hemograma completo:
Leucopenia com neutropenia relativa e trombocitopenia [3]
Provas de coagulação:
Tempo de protrombina prolongado [3]
Em casos fatais, a imunohistoquímica em tecido hepático representa o “padrão de ouro” para confirmação do diagnóstico [5].
Manejo em Situações de Emergência
O tratamento na urgência centra-se no suporte, já que não existe terapia antiviral específica [1][3][4]. As medidas incluem:
Estabilização hemodinâmica:
Reposição de líquidos e eletrólitos
Tratamento do choque, se presente
Gestão da febre e dor:
Antipiréticos (evitar ácido acetilsalicílico devido ao risco hemorrágico)
Prevenção e tratamento de complicações hemorrágicas:
Administração de vitamina K
Transfusão de hemoderivados conforme necessário
Proteção gástrica:
Uso de bloqueadores H₂ ou inibidores da bomba de protões
Suporte da função renal:
Monitorização da diurese e equilíbrio hídrico
Considerar hemodiálise em casos de insuficiência renal aguda
Manejo da insuficiência hepática:
Monitorização da função hepática e correção da hipoglucemia
Prevenção de infeções secundárias
Uso de antibióticos de largo espectro, se houver suspeita de infeção bacteriana
Isolamento do doente:
Implementação de medidas de controlo vetorial para prevenir transmissão
É fundamental lembrar que a vacinação continua a ser a estratégia mais eficaz contra a febre amarela [2][6]. Uma só dose da vacina confere imunidade permanente em 99% dos vacinados [6].
Citações
Comments