Dissecção Aórtica
- EmergenciasUNO
- 11 de jun.
- 2 min de leitura
MANUAL DE EMERGÊNCIAS 2025
A dissecção aórtica é uma condição grave que envolve o rasgamento da camada íntima da aorta.
A patologia consiste na separação longitudinal da camada média muscular da aorta por uma coluna de sangue:
Esta dissecção pode propagar-se de forma proximal (podendo resultar em insuficiência aórtica, oclusão das artérias coronárias ou tamponamento cardíaco)
Ou distalmente (podendo comprometer a origem de múltiplas artérias).
Também pode romper-se internamente de volta para o lúmen aórtico
Ou externamente (por exemplo, para o mediastino, conduzindo a uma exsanguinação rápida).
Mais de 70% dos doentes têm antecedentes de hipertensão arterial.
Ocorre com maior frequência em indivíduos com válvula aórtica bicúspide, síndrome de Marfan ou síndrome de Ehlers-Danlos.
Até 20% dos casos ocorrem após cirurgia cardíaca recente ou após procedimentos como angiografia/angioplastia.
Deve ser considerada em qualquer grávida que apresente dor torácica, dorsal ou cervical intensa e inexplicada.
A dissecção pode ser classificada de acordo com a classificação de Stanford:
Tipo A: envolve a aorta ascendente
Tipo B: não envolve a aorta ascendente
A mortalidade global é de aproximadamente 30% (35% no tipo A e 15% no tipo B).
Apresentação Clínica
Pode mimetizar um enfarte agudo do miocárdio (EAM), exigindo um elevado índice de suspeição.
Tipicamente apresenta-se com dor torácica abrupta, intensa, lacerante ou em facada, de início súbito (máxima no início), podendo ser anterior ou posterior.
A migração da dor pode refletir a extensão da dissecção.
A síncope ocorre em cerca de 10% dos doentes, por vezes na ausência de dor.
Ocasionalmente, os doentes podem apresentar défice neurológico associado a dor torácica.
Exames Complementares:
Radiografia torácica (Rx Tórax): geralmente alterada.Pode evidenciar:
Alargamento do mediastino (>75%)
"Duplo contorno" da aorta
Derrame pleural esquerdo (~20%)
Desvio da traqueia ou da sonda nasogástrica para a direita
Separação superior a 5 mm entre as margens calcificadas da parede aórtica (sinal do cálcio)
No entanto, 8–12% dos casos de dissecção aórtica podem apresentar uma radiografia torácica normal.
ECG: Pode evidenciar EAM, hipertrofia ventricular esquerda (HVE) ou sinais de isquemia.
Cerca de 30% dos doentes com dissecção aórtica têm ECG normal.
Diagnóstico definitivo:
Angio-TC
Angiografia formal
Abordagem de Emergência (suspeita de dissecção aórtica):
Administração de oxigénio por máscara facial conforme necessário
Inserção de 2 acessos venosos periféricos de grande calibre (14G)
Cruzamento de sangue para 6 unidades e notificação ao banco de sangue sobre a suspeita diagnóstica
Administração de morfina IV, titulada conforme resposta± antiemético
Contactar precocemente as equipas de cirurgia cardiotorácica e cardiologia
Inserção de linha arterial (preferencialmente radial direita)
Discutir controlo da pressão arterial com equipas especializadas(ex: perfusão contínua de labetalol)
Solicitar exames adicionais conforme orientação do especialista(ex: aortografia, ecocardiograma, TC, RMN)
Tratamento
Abordagem cirúrgica para dissecções do tipo A
Dissecções do tipo B são geralmente tratadas clinicamente
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