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Corpos estranhos retais (CER)

MANUAL DE EMERGÊNCIAS 2025



Os corpos estranhos retais (CER) representam um desafio diagnóstico e terapêutico nos serviços de urgência. Este artigo aborda os aspetos-chave desta condição, incluindo sintomas, sinais clínicos, exame, exames complementares e abordagem em situações de emergência.


Epidemiologia


Os CER são mais frequentes em homens, com uma proporção que pode atingir 28:1, e têm maior incidência entre os 20 e os 40 anos[3]. As causas principais incluem estimulação sexual (35,8%), motivos não revelados (50,6%) e agressão por terceiros (5,2%)[3].


Sintomas


Os sintomas principais dos CER incluem:


  • Dor anal ou obstipação[3]


  • Dor súbita e intensa durante a defecação[1]


  • Hemorragia rectal[3]


  • Incapacidade para urinar[3]


  • Dor abdominal nos quadrantes inferiores[3]


  • Incontinência anal[3]


  • Diarreia[3]


  • Em casos graves, sinais de sépsis ou colapso cardiovascular[3]


É importante destacar que os doentes frequentemente tentam extrair o objeto em várias ocasiões antes de procurar assistência médica, o que pode aumentar o risco de complicações[3].


Sinais clínicos


Os sinais clínicos podem variar conforme o tipo de objeto e o tempo desde a sua introdução. Podem incluir:


  • Sangramento evidente, indicativo de laceração ou perfuração[2]


  • Sinais de irritação peritoneal em casos de perfuração[4]


  • Taquicardia e hipotensão em casos de sépsis[3]


  • Espasmo do esfínter anal[4]


Exame físico


O exame físico é fundamental e deve incluir:


  • Exame abdominal completo, incluindo inspeção, palpação, percussão e auscultação[4]


  • Avaliação da região perineal à procura de lacerações, hematomas, perfurações ou sangramento[4]


  • Toque retal cuidadoso, avaliando:


    • Tono do esfínter anal antes e depois da extração[4]


    • Presença do corpo estranho palpável[4]


    • Presença de sangue ou perda de tono do esfínter[4]


É essencial ter precaução durante o toque retal, pois alguns objetos podem ser punçantes ou cortantes[4].


Exames complementares


Os exames diagnósticos mais utilizados são:


  • Radiografias antero-posteriores e laterais do abdómen e pélvis: permitem identificar grande parte dos CER, sua localização e forma[3]


  • Tomografia Computorizada (TC) com contraste do abdómen e pélvis: indicada quando se suspeita perfuração[4]


  • Endoscopia: proporciona excelente visualização e permite diagnóstico e extração simultânea[4]


Importa salientar que uma radiografia negativa não exclui a presença de um corpo estranho rectal[3].


Abordagem em emergência


A abordagem aos CER em urgência deve seguir estes passos:


  1. Avaliação inicial e estabilização do doente.


  2. Obtenção de pela história detalhada e exame físico completo.


  3. Realização dos exames complementares adequados.


  4. Escolha da técnica de extração adequada:


    • Objeto palpável: extração manual sob anestesia local, utilizando dilatadores rectais[1][2].


    • Objeto não palpável: aguardar descida natural ou considerar técnicas mais avançadas[2].


  5. Em casos complexos ou fracasso da extração manual:


    • Considerar sigmoidoscopia flexível ou TAMIS (cirurgia transanal minimamente invasiva)[5].


    • Cirurgia abdominal (laparotomia ou laparoscopia) nos casos de migração do objeto, suspeita de perfuração, abcessos associados ou extração transanal sem sucesso[5].


  6. Realizar sigmoidoscopia após a extração para avaliar possíveis lesões no recto ou cólon[1][4].


O manejo dos CER requer uma abordagem multidisciplinar e avaliação criteriosa para definir a melhor estratégia terapêutica, minimizando complicações e garantindo o melhor desfecho para o doente.


Citações:


 
 
 

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