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Botulismo

MANUAL DE EMERGÊNCIAS 2025



O botulismo é uma doença grave causada pela neurotoxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum. Esta intoxicação, embora rara, pode ser potencialmente fatal se não for tratada de forma adequada. A seguir, abordam-se os aspetos mais relevantes desta condição do ponto de vista clínico e da gestão em situações de emergência.


Sintomas


Os sintomas do botulismo surgem geralmente entre 12 e 36 horas após a exposição à toxina, embora este intervalo possa variar desde algumas horas até vários dias [1][2]. Os sintomas iniciais podem incluir:


  • Náuseas e vómitos


  • Cólicas abdominais


  • Diarreia


  • Secura da boca


  • Disfagia (dificuldade em engolir)


  • Disartria (dificuldade em falar)


  • Visão turva ou dupla (diplopia)


  • Ptose (queda das pálpebras)


À medida que a doença progride, podem desenvolver-se sintomas mais graves, como:


  • Fraqueza muscular progressiva


  • Insuficiência respiratória


  • Paralisia


Sinais


O exame físico revela sinais característicos do botulismo, incluindo:


  • Paralisia flácida descendente


  • Fraqueza facial bilateral


  • Ptose


  • Midríase (dilatação das pupilas)


  • Redução dos reflexos osteotendinosos


  • Paralisia dos músculos respiratórios (em casos avançados)


É importante salientar que, apesar da gravidade dos sintomas neurológicos, os pacientes geralmente permanecem afebris e conscientes [1].


Exame Físico


O exame neurológico é essencial para o diagnóstico do botulismo. Deve-se avaliar:


  • Função dos pares cranianos


  • Força muscular


  • Reflexos osteotendinosos


  • Capacidade respiratória (medição da capacidade vital)


Adicionalmente, deve ser realizada uma inspeção minuciosa em busca de possíveis feridas ou locais de injeção, especialmente em casos suspeitos de botulismo por ferida [3].


Exames Diagnósticos


O diagnóstico do botulismo baseia-se principalmente na apresentação clínica, mas podem ser realizados os seguintes exames para confirmação:


  • Deteção da toxina botulínica:


    • No soro


    • Nas fezes


    • Em alimentos suspeitos (no caso de botulismo alimentar)


  • Eletromiografia (EMG): revela padrão típico de aumento da resposta com estimulação repetitiva na maioria dos casos [1]


  • Cultura anaeróbia: para isolar C. botulinum em amostras de feridas ou fezes [4]


  • Exames laboratoriais: para excluir outras causas de paralisia flácida


É importante referir que os resultados destes exames podem demorar vários dias, pelo que o tratamento não deve ser adiado à espera da confirmação diagnóstica [7].


Abordagem em Situações de Emergência


O botulismo é uma emergência médica que exige atenção imediata. A abordagem nos serviços de urgência deve incluir:


  • Estabilização do paciente:


    • Monitorização dos sinais vitais


    • Avaliação da função respiratória


    • Intubação e ventilação mecânica, se necessário


  • Administração de antitoxina botulínica:


    • Antitoxina equina heptavalente (HBAT) para adultos e crianças com mais de 1 ano


    • Imunoglobulina botulínica humana (BIG-IV) para lactentes com menos de 1 ano [1][8]


  • Descontaminação gastrointestinal:


    • Administração de carvão ativado em casos de ingestão recente [1]


  • Cuidados de suporte:


    • Alimentação por sonda nasogástrica, se necessário


    • Prevenção de complicações (trombose venosa profunda, úlceras de pressão)


  • Gestão de complicações:


    • Tratamento de infeções secundárias


    • Fisioterapia respiratória


A notificação às autoridades de saúde pública é obrigatória, dado que o botulismo é uma doença de declaração obrigatória [5].


O prognóstico do botulismo melhorou significativamente com os avanços nos cuidados de suporte, com uma taxa de mortalidade atual inferior a 10% [1]. No entanto, a recuperação pode ser lenta e exigir meses de reabilitação.


O reconhecimento precoce dos sintomas e sinais do botulismo, aliado a uma gestão rápida e adequada no serviço de urgência, é essencial para melhorar o prognóstico dos doentes afetados por esta intoxicação grave.


Citações


 
 
 

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